Fernando Quintella

    Fernando Quintella

    Terça, 08 Agosto 2023 18:56

    Ficaremos obsoletos no futuro?

    Estou em fase de descarte de inservíveis. Mexo em gavetas, caixas, armários, nada fica fora da busca insana. O espaço de armazenagem acabou. Chegou a hora de desapegar, movimento quase sempre doloroso. Como decidi a sério, vamos adiante.

    Fiquei impressionando com a quantidade de câmeras fotográficas digitais acumuladas ao longo dos anos. Bastava mudar a qualidade de definição das fotos, lá estava eu em outra viagem Cazuza (“O meu cartão de crédito é uma navalha”). Hoje, aposentei aquelas câmeras. Há muito elas deixaram de atender os padrões modernos.

    Enquanto tentava lembrar de cada foto feita com a câmera da vez, pensava em quão rápido o tempo passou. À época da compra, todas representavam o avanço máximo da tecnologia no produto. Agora, doze anos depois, parecem fusquinha 1962 diante dos carros luxuosos do Terceiro Milênio.

    O próprio papo soa anacrônico, em tempos de celulares com 15 megapixels de definição nas câmeras. Quem quer câmera fotográfica ao estilo antigo, quando os celulares resolvem do mesmo jeito ou até melhor?

    Relógios? Outra peça a caminho da aposentadoria. Novamente, o vilão(?) é o telefone celular, aparelho multitarefa; inclusive, faz chamadas telefônicas, imagine. Meu saudoso amigo Newton Camargo Moraes, rotariano lá de São José dos Campos, alertou-me sobre o relógio. “A garotada só gosta de usar o celular. Adeus, relógio”, ele comentou.

    Eu falei em telefone celular? Eis outro item trocado de tempos em tempos. Assim como o lançamento de carros, os fabricantes fazem do anúncio dos novos modelos verdadeira efeméride. Instigam o consumismo e a vaidade alheia. Em módicas parcelas, a maioria dos consumidores faz a troca na maior felicidade.

    Sou do tempo dos bens duráveis, mas duráveis mesmo. Carros, enceradeiras, ferros de passar roupa, liquidificadores, batedeiras. Produtos feitos para durar anos. Como tudo agora dura pouco, fico preocupado de eu mesmo tornar-me obsoleto em futuro próximo. É a vida...

    Terça, 08 Agosto 2023 03:46

    Projeto reforça prática de xadrez

    Diversão e aprendizado movimentam a Escola Municipal Centenário

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    Sexta, 21 Julho 2023 20:25

    Domingo no Caçari

    O começo da década de 1980 marcou intensa movimentação de profissionais de todos os cantos do país em busca de novas oportunidades de trabalho. A excelente remuneração oferecida pelo então território Federal atraía até quem estava bem colocado em outros centros.  Boa Vista registrava índice de violência mínimo, outro atrativo importante.

    A cidade, antes com o mercado imobiliário equilibrado, precisava novas unidades residenciais com urgência. O governo passou a desenvolver projetos com o apoio da Companhia de Desenvolvimento de Roraima (Codesaima). Um deles, o Conjunto Caçari, entregue no fim de 1982,  teve grande procura, com suas 144 casas bastante disputadas.

    Instalado o novo condomínio, logo os moradores iniciaram a ocupação das áreas de lazer, principalmente aquela defronte à Avenida Ville Roy. O campo de futebol Society foi a primeira novidade. Até moradores de outros bairros apareciam nas manhãs de domingo, a partir das 9h.

    A quase totalidade das casas ainda permanecia sem muro, conceito sugerido aos novos moradores, a maioria colegas de trabalho nas secretarias de Governo. Parecia comunidade americana. Nem cerca viva existia.

    O engenheiro Ricardo Matos, gerente do projeto e um dos moradores do conjunto, logo surgiu como liderança natural. O Rico agitava os fins de semana, em especial com a garotada, grupo com o qual fazia tremendo sucesso.

    Mas o sucesso tem o seu preço. Recém-casado com a Astrid Tidinha Marques, o casal acordava às 7h com batidas na janela do quarto deles (as casas eram sem muro, lembra?). A gurizada cobrava a presença do líder, treinador, árbitro e afins no campinho, onde haveria diversas partidas antes dos jogos dos adultos.

    Rico acompanhava a turma com a maior satisfação, mesmo se estivesse cansado de esticada noturna do casal em alguma festa. Afinal, era o espírito do novo condomínio. Bons tempos.

    Sexta, 09 Junho 2023 07:48

    Histórias do Copão da Amazônia

    Intervalo do jogo Juventus, do Acre, contra o Ríver, de Roraima. O repórter da rádio acreana entrevista o zagueiro roraimense Transa. Ele pergunta: “Jogo duro, hein. Está cansado?” Sem fôlego, o craque balança a mão como se dissesse “mais ou menos”. O repórter, apanhado de surpresa, emenda: ”Alô, Transa, aqui é rádio, gesto não vale, precisa falar”.

    Eram tempos do Copão da Amazônia, competição criada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) destinada aos clubes do Acre, Amapá, Rondônia e Roraima, então com futebol amador. O certame era disputado em duas chaves, com quatro clubes cada uma, em sedes diferentes. Os campeões das chaves jogavam as finais em duas partidas, uma em casa e outra na casa do adversário.

    As histórias vividas por atletas, dirigentes e jornalistas faziam a alegria das delegações. Waldemar Caldas, o Wado, bom zagueiro do Baré, vira e mexe era expulso de campo. Uma das vezes foi no Copão, em Porto Velho. A comunicação era feita através de telefones fixos (final da década de 1980). Refugiado no hotel onde o presidente do clube, Zuza, estava hospedado (os jogadores ficavam em alojamento coletivo), ele falou com a esposa e com a filha. Ao terminar a conversa, comenta, triste: “Até a minha filha reclamou: ’Expulso de novo, papai?’”

    Em 1982, o São Raimundo foi ao Amapá. Na véspera da estreia, contra o poderoso Juventus, o treinador, o então capitão Derly Borges, da Polícia Militar de Roraima, toma um susto: o craque do time, Renier, ainda estava fora do hotel às 23h.

    Borges saiu em busca do atleta, na companhia de Rainor, irmão de Renier. A duas quadras do hotel, eles veem pelada de futebol de salão na quadra pública, onde a galera delirava com as jogadas de efeito do jogador. Ameaçado de desligamento da delegação, Renier prometeu atuação de gala no dia seguinte. Dito e feito. Os acreanos pagaram o pato: São Raimundo 3 a 0.

    Na rua Professor Diomedes, o prédio caindo aos pedaços, sem manutenção por muitos anos, nem de longe remete ao professor que chamou para si a responsabilidade de ensinar as almas do Vale do Rio Banco

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    O paraense Astrolino viu o rádio nascer em Roraima

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    Quinta, 13 Abril 2023 03:29

    É sempre tempo de realizar um sonho

    Calmo, elegante, educado, voz empostada, com roupas sempre limpíssimas e bem engomadas, entre o alunado, Rubeldimar era conhecido como "Professor Beleza". Formou-se em Medicina em 1984

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    Terça, 11 Abril 2023 21:24

    São Pedro pirou de vez

    Desde criança ouço darem a São Pedro poderes imensos como “Porteiro do Céu”. Talvez tenham interpretado mal o Evangelho de Mateus, no qual o assunto é tratado. Basta chover e lá vem o papo de “São Pedro está lavando o céu” (com direito ao uso do gerúndio). A trovoada assustou? ”É São Pedro arrastando os móveis no céu” (e tome gerúndio).

    Quando chegamos em Roraima, em janeiro de 1981, o clima funcionava com perfeição. Entre abril e agosto – às vezes, setembro -, o ex-território federal vivia o período das chuvas, com maior intensidade em junho e julho. Nos demais meses, tínhamos o período de sol a pino, com o veranico (chuvas fora de época) no fim de novembro, começo de dezembro. Como se dizia antigamente, com a pontualidade de relógio suíço.

    Você podia marcar as festas de fim de ano ao ar livre sem o menor perigo de ser apanhado de surpresa com chuvas indesejáveis. Pelo menos até 1999, quando vimos chover naquele período pela primeira vez em quase duas décadas. Pensamos até ser influência da virada do Milênio, o tal bug prometido para bagunçar computadores do mundo inteiro. Se a chuva bateu o ponto, o bug, ainda bem, levou falta.

    A partir daí, o tempo ficou descontrolado. Deixou de respeitar os antigos períodos. Os anfitriões passaram a ter cuidado ao planejarem eventos. O pessoal do agronegócio, principalmente pequenos agricultores, passaram a acumular prejuízos com o regime de chuvas desajustado, para mais ou para menos.

    Vivemos os últimos dias de 2022 com a sensação de estarmos no caos meteorológico. Chegou setembro, veio outubro, estamos a dois dias de dezembro e tome chuva. O veranico virou veranaço (se é que a palavra existe).

    De quem é a culpa de o tempo estar descontrolado? Há opiniões de todas as tendências. A briga de versões continua em todas as plataformas existentes. Enquanto discutem, o tempo continua imprevisível. Minha preocupação é, depois de tantas teorias, culparem São Pedro. Quem manda ser porteiro do céu?

     

    Variados segmentos se unem com a missão de debater arte, cultura e educação no Estado

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    Terça, 07 Março 2023 19:54

    A chapa

    O cenário era sempre o mesmo. A executiva e empresária Maria José Alves, de Manaus, recebia pessoas em seu local de trabalho com a mesma simpatia. A maioria, formada de empresários em busca de apoio aos seus projetos. Mas o pequeno grupo de pedintes batia o ponto com a mesma regularidade dos funcionários da empresa.

    Havia quem tivesse dia e horário certos. Aquela senhorinha aparecia uma vez por mês, sempre na primeira segunda-feira. Vinha com receita médica na mão em busca de ajuda para pagar os exames prescritos pelo médico. O documento era verdadeiro. Ela precisava dos exames. O problema era quando a “colega” pedia auxílio com a mesma receita. Apanhada no erro, ela argumentava ser outro, muito parecido.

    A Zezé nem esquentava. Sabia o quanto a senhorinha necessitava do dinheiro. Conhecia o caso. Contribuía com a “colega”, desejava melhoras e a aguardava no mês seguinte, com a pontualidade de relógio suíço, como se dizia antigamente.

    Certo dia, apareceu microempresária cujo empreendimento havia sido apoiado há tempos. A lanchonete parecia roda gigante: hora subia, como se pegasse embalo definitivo, hora caía a níveis quase insustentáveis. Dava agonia ver a luta da jovem nesse vai e vem insano.

    A última visita causou espanto à Zezé. A lanchonete ia bem das finanças. Mas lá estava a jovem com pedido inusitado. Precisava de dinheiro para comprar uma chapa nova. Nossa amiga estranhou, pois os equipamentos eram seminovos, ainda em condições de enfrentar bom tempo de uso.

    Acostumada com a falta de experiência dos empresários de primeira viagem, questionou o pedido. Quem sabe dava para consertar a sanduicheira? Foi quando a jovem sorriu um sorriso de poucos dentes à frente e esclareceu o caso:

    - A senhora entendeu errado. A chapa da lanchonete está boa. Eu preciso de dinheiro para comprar uma chapa nova para a boca. Perdi a antiga. Rir com esse buraco fica muito feio...

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