Em tempos de redes sociais cada vez mais ágeis, fica difícil entender a morosidade na comunicação escrita naquela década de 1970. A carta ainda era a melhor forma de se enviar notícias a amigos e familiares distantes. O telegrama custava caro. Os Correios cobravam por palavra. Quer cumprimentar alguém pelo aniversário? O texto ideal tinha três palavras: “Parabéns data hoje”.
Escritores de romances usavam cartas de amor no enredo. Quanto mais adjetivos, melhor. As chamadas missivas, esquentavam o texto e davam o tom certo exigido pelo enredo.
O caso do jovem apaixonado por menina de sua cidade mantém-se em minha memória há quase 50 anos. Ele preferia escrever na máquina de datilografia. Naquele dia, a inspiração veio aos poucos. Ainda estava na metade quando a hora do almoço chegou. Ele deixou o papel com o início da carta na máquina, sem se dar conta da indiscrição dos colegas de trabalho.
Antes mesmo de regressar à sala, um colega curioso leu a declaração de amor à amada distante. A primeira frase era verdadeiro petardo via postal: “Você é o oxigênio da minha alma!” Logo começou a discussão sobre a propriedade da frase. Sim, porque juntou gente em volta da mesa do colega apaixonado. As mulheres, mais sensíveis, aceitavam oxigenar a alma da amada como licença poética de muito bom gosto. Os homens acharam-na ridícula.
Quando o autor retornou à sala, encontrou aquele fuzuê enorme próximo à mesa. Tímido, preferiu abrir o jogo com os colegas. Estava sem saber como fazer a amada sentir a enormidade de seu amor. Nem sabia de onde tirou o “oxigênio da minha alma”.
A turma deu uma força e a carta saiu bem bacana. Uma semana depois, chegou a resposta da agora namorada. Ele fez questão de mostrar ao pessoal. Acertara o coração da moça em cheio.
Desconheço o fim da história. Nunca mais o vi. Tomara que o amor de ambos tenha permanecido oxigenado. Eles mereciam.