O cenário era sempre o mesmo. A executiva e empresária Maria José Alves, de Manaus, recebia pessoas em seu local de trabalho com a mesma simpatia. A maioria, formada de empresários em busca de apoio aos seus projetos. Mas o pequeno grupo de pedintes batia o ponto com a mesma regularidade dos funcionários da empresa.
Havia quem tivesse dia e horário certos. Aquela senhorinha aparecia uma vez por mês, sempre na primeira segunda-feira. Vinha com receita médica na mão em busca de ajuda para pagar os exames prescritos pelo médico. O documento era verdadeiro. Ela precisava dos exames. O problema era quando a “colega” pedia auxílio com a mesma receita. Apanhada no erro, ela argumentava ser outro, muito parecido.
A Zezé nem esquentava. Sabia o quanto a senhorinha necessitava do dinheiro. Conhecia o caso. Contribuía com a “colega”, desejava melhoras e a aguardava no mês seguinte, com a pontualidade de relógio suíço, como se dizia antigamente.
Certo dia, apareceu microempresária cujo empreendimento havia sido apoiado há tempos. A lanchonete parecia roda gigante: hora subia, como se pegasse embalo definitivo, hora caía a níveis quase insustentáveis. Dava agonia ver a luta da jovem nesse vai e vem insano.
A última visita causou espanto à Zezé. A lanchonete ia bem das finanças. Mas lá estava a jovem com pedido inusitado. Precisava de dinheiro para comprar uma chapa nova. Nossa amiga estranhou, pois os equipamentos eram seminovos, ainda em condições de enfrentar bom tempo de uso.
Acostumada com a falta de experiência dos empresários de primeira viagem, questionou o pedido. Quem sabe dava para consertar a sanduicheira? Foi quando a jovem sorriu um sorriso de poucos dentes à frente e esclareceu o caso:
- A senhora entendeu errado. A chapa da lanchonete está boa. Eu preciso de dinheiro para comprar uma chapa nova para a boca. Perdi a antiga. Rir com esse buraco fica muito feio...