Terça, 20 Dezembro 2016 19:58

    Visionários investem pesado em Roraima

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    Visionários investem pesado em Roraima Fotos: Vanessa Targino

    No meio do lavrado, ergue-se o mais alto investimento privado de Boa Vista.

    Currais, galpões, caldeira, câmara frigorífica, planta geradora de eletricidade e complexo administrativo se erguem no entorno da capital de Roraima. Em área de 86 hectares, logo depois do igarapé Água Boa, os 30 mil metros quadrados de edificações são fruto da coragem e determinação de 10 empresários que investem 34 milhões de reais – até agora – no mais moderno matadouro frigorífico da Região Norte.

    Depois de cinco anos desde as tratativas iniciais, o Frigo 10 abandona pranchetas e programas de computador e se torna realidade. Em pouco tempo, o empreendimento contrata diretamente 350 pessoas e gera 4 mil vagas indiretas de trabalho, provocando grande impacto positivo na economia de Roraima.

    Ali, tudo é grande. Grande, também, é Carlos Bocchi, mato-grossense com cerca de dois metros de altura, que, com conhecimento e paciência guiou a reportagem do Roraima Agora em um tour pelas instalações do Frigo 10, oferecendo detalhes sobre o mecanismo do matadouro frigorífico que inicia operações com capacidade para abater 350 bois por dia. Simplesmente abates.

    Em 60 minutos, o Frigo 10 terá capacidade de selecionar, higienizar, abater, sangrar, dividir, empacotar e armazenar 80 cabeças de gado. Tudo livre de infecções, dentro de padrões internacionais, com certificação de autoridades brasileiras. “Todo o projeto e sua execução são acompanhados por técnicos do SIF – Serviço de Inspeção Federal, do Ministério da Agricultura. Produtos saídos daqui poderão ser comercializados, sem restrições, em qualquer parte do mundo”, afirma diz Carlão.

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    Governo a distância

    Investimento como esse não depende somente de dinheiro. Há que ser licenciado por órgãos públicos depois de analisados todos os impactos que possa causar. “Achamos correto o respeito ao meio ambiente, mas perdemos alguns anos só para que autorizassem a canalização de um filete de água no meio da principal via de acesso ao Frigo 10”, protesta Luiz Brito.

    “Em outros estados, investimento como esse, que vai gerar milhares de empregos e injetar recursos substanciais na economia, receberia incentivos de governantes. Não é nosso caso: aqui, os governos – estadual e municipal – não nos deram a mínima atenção”, comenta Carlos Bocchi, cuja família tem empreendimentos de porte em outras unidades da Federação.

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    Carlão, mato-grossense, médico veterinário, cresceu no meio da pecuária e adquiriu ampla experiência no setor pela lida contínua nos negócios da família. Hoje, ele é o administrador geral e responsável pelas obras e administração do Frigo 10.

    Luiz Brito faz questão de dizer que “para a obra, o Frigo 10 só não comprou em Roraima o que Roraima não tinha para vender”. O projeto elaborado e conduzido por empresa especializada na área de matadouros frigoríficos aproveitou ao máximo o que a natureza oferece: incidência de sol para a graxaria e correntes de vento para arrefecimento, por exemplo.

    Os sócios festejam as dezenas de empreendimentos que se beneficiarão com insumos saídos do Frigo 10. “Do boi, só não se aproveita o berro. Daqui, exportaremos muita coisa para as mais diversas partes do mundo”, diz Luiz Brito.

    Em fase final, enquanto peões impermeabilizam o piso de galpões com tinta especial, técnicos instalam e testam equipamentos de última geração que vão controlar o fluxo de produção do Frigo 10.

    Luiz Brito e Carlão não querem se comprometer, mas acham que até março de 2017 Roraima receberá seu maior investimento privado funcionando a todo vapor.

    E assim, depois de cinco anos desde as tratativas iniciais, o Frigo 10 abandona pranchetas e programas e de computador e se torna realidade. Em pouco tempo, o empreendimento contrata diretamente 350 pessoas e gera 4 mil vagas indiretas de trabalho, provocando grande impacto positivo na economia de Roraima.

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    Papo de boteco

    Dandãezinho, pioneiro do vale do Rio Branco, dizia “que os melhores negócios são feitos em mesa de bar”. O maior investimento privado de Roraima surgiu no “Sindicato dos Amigos”, boteco no entroncamento das BRs-174 e 401, onde empresários se reúnem para bater papo.

    Luiz Brito conta que um dia, Jota Lopes – um dos maiores pecuaristas de Roraima – reclamou dos serviços prestados pelo Matadouro Frigorífico da Codesaima.

    Criadores de bois fizeram coro e se desmancharam em críticas ao abatedouro do governo. Luiz perguntou: “E por que nós não construímos o nosso próprio matadouro frigorífico?” A colocação do empresário provocou risadas com a justificativa de que “um negócio desses custa muito dinheiro”.

    Amolecidos pela cerveja e pela empolgação do capo da LB Construtora, interlocutores ouviram colocações, pesaram prós e contras e, ali, nalgum dia de 2011, a semente do Frigo 10 foi lançada.

    Reuniões passaram a ser feitas na sede da LB; em pouco tempo, estatuto societário foi criado e cotas mensais passaram a ser recolhidas em banco por cada um dos 10 visionários.

    De 10 para trinta, a diferença é pequena

    No início, os sócios achavam que 10 milhões de reais seriam suficientes para deixar o matadouro frigorífico em pleno funcionamento. Surgiu a pergunta: “Mas, por que construir um matadouro de pequeno porte se a tendência é crescer?” Planos modificados, valores aumentados. O novo projeto foi estimado em 25 milhões de reais. A poucos meses da inauguração, Luiz Brito informa que o Frigo 10 não sairá por menos de 35 milhões de reais. Perfeccionista, ele justifica: “Se é pra fazer, vamos fazer uma coisa que preste”.

    O maior empreendimento privado do Estado de Roraima torna-se realidade. E quem diria que tudo começou numa mesa de bar cinco anos atrás.

     

    Os pais da criança

    O Frigo 10 não foge a essa regra, mas a realidade é bem diferente. 

    Luiz Brito enfatiza que a sociedade surgiu entre homens escolhidos a dedo: empresários sérios, contribuintes conscientes que honram seus compromissos dentro da legalidade, se preocupam com o social e têm o progresso de Roraima como objetivo maior. “A língua do povo já colocou políticos das mais diversas tendências dentro do Frigo 10. Isso é balela. Até fomos procurados por políticos querendo participar desse grupo. Dissemos não.

    Queremos fazer algo diferente: não macularíamos um projeto sério, dessa magnitude, nos envolvendo com pessoas cujas atitudes ferem os nossos princípios”. “Isso não impede que, entretanto, que o Frigo 10 possa surgir com algum nome para representar o povo em esfera municipal, estadual ou federal. Um investimento sério como o nosso, livre de amarras, acima de qualquer suspeita, nos avaliza para, quem sabe, ajudar na moralização da administração desta terra”, encerra Luiz.

     

    Homens de visão investem no Frigo 10 – um dos matadouros frigoríficos mais modernos do Brasil

    Antônio Olivério Garcia de Almeida; Antônio Parima Vieira; Clever Ulisses Gomes; Ermílio Paludo; Genor Luiz Faccio; Gilberto Leonildo Bocchi; José Lopes Primo; Luiz Coelho de Brito; Ronaldo Braga da Silva; e Tiaraju Faccio são os donos do Frigo 10.

     

     

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    Aroldo Pinheiro

    Aroldo Pinheiro,  roraimense, comerciante, jornalista formado pela Universidade Federal de Roraima. Três livros publicados: "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente" (2003), "A MOSCA - Romance de vida e de morte" (2004) e "20 CONTOS INVERSOS E DOIS DEDOS DE PROSA - Causos de nossa gente".

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