O bem e o mal

    Sexta-feira. Dia de rabada no Restaurante da Família. Cheguei cedo. Apreciadores desse prato, preparado por dona Míriam, sabem que quem chega depois das 12h30 dança. Me deliciando com a carne suculenta, não pude deixar de ouvir conversa que vinha de mesa ao lado.

    Os rapazes têm pouco mais de 30 anos de idade. Conheço os dois desde pequeninhos. Doutor Balada - apelido que lhe foi dado pelos colegas de medicina - e Bip-bip - denominação que recebeu depois que trocou noites de farra por longas e cansativas corridas matinais – falavam sobre a nova vida e lembravam um pouco das farras loucas que fizeram até pouco tempo atrás.

    Pagodes e pegadas faziam parte dos relatos. Tudo mais ou menos na base do “lembra daquela noite?”. Essas lembranças não eram alimentadas por saudosismo ou por infelicidade nos dias de hoje, eram simplesmente recordações da loucuras e dos muitos atos irresponsáveis que praticaram em passado recente. Hoje, Bip-bip e Doutor Balada sentem-se felizes com os rumos que deram a suas vidas.

    Quem ouvisse os nomes citados por eles pensaria que escalavam uma dessas gangues galerosas: Batata, Camarão, Come-quieto, Calhambeque, Cavaco, Sem-futuro, Amarrado, Três-pernas, Chumbrega, Passa-quatro, Chupeta, Negão.

    Quando citado o nome de Negão, histórias interessantes surgiram. Farras loucas, claro. Farras que duravam até quatro dias. Pra eles, Negão era a prova de resistência alcoólica. “Ele só parava depois que todo mundo estivesse morto”, comenta Bip-bip.

    - Encontrei-me com ele há poucos dias... – Diz o médico. – Diferente, trabalhando duro, casado, dedicado à família. Nem parece que era o rei da bandalha. E virou católico. Desses de ir à missa todo domingo.

    Bip-bip confirma a informação. E acrescenta: “Encontrei-me com ele num casamento. Ali na igreja Nossa Senhora da Consolata. Falou-me das mudanças na vida dele e me convidou pra frequentar o templo com ele.

    Riram. Bip-bip acrescentou:

    - Nada contra. Acho até legal que ele tenha encontrado o caminho do bem. Mas fugi do convite. E justifiquei: “Negão, como os católicos têm esse negócio de contar pecados prum padre, se eu me ajoelhar no confessionário, vou ter que passar o resto da minha vida dentro da igreja. Só confessando os pecados que cometi no tempo em que eu era errado”.

    Riram muito. Viram que eu prestava atenção à conversa e emudeceram. 

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