No cartão. Três vezes

    Ao longe, o azul do céu se misturava com o azul do mar. Mocinhas de corpos perfeitos passavam à sua frente. Quando ele se deliciava com a brisa que amenizava a quentura do sol, o despertador tocou.
    Que pena. Trabalhar.

    Levantou-se, meditou no vazo sanitário por alguns minutos, fez a barba, escovou os dentes, tomou banho pensando na beleza da praia que fizera parte de seu sonho minutos atrás. Teve vontade de voltar para a cama. Queria aqueles momentos de volta, mesmo sabendo que tinha sido um sonho.

    Trabalhar, cara!

    Cumprimentou o cachorro, abasteceu as tigelas com ração e água, verificou se tinha passado chave em todas as portas, checou cadeados. Pelas imagens no monitor, conferiu se todas as câmeras de segurança estavam funcionando, deu partida no carro, acionou o controle do portão elétrico e saiu de casa.

    No caminho, deparou-se com a pressa dos que iam em busca de seu ganha pão. Ele, como quase todos os outros, enfrentaria a rotina da segunda-feira.

    Chegou a seu estabelecimento – panificadora bem frequentada por quem quer matar a broca com delícias regionais e comidinha caseira. Depois de dar uma geral em funcionários, dar uma checada se tudo estava nos conformes na mesa com comidas, sentou-se no lugarzinho de sempre, e, por detrás do vidro que separa a caixa, preparou-se para somar valores em comandas e cobrar o que lhe era devido por clientes.

    Por volta das 8h30, quando o movimento é maior, chegou a vez de atender um rapazinho com cara de sono, barba por fazer, jeito de quem nunca botou um prego numa barra de sabão, mas com ares de quem é o dono do mundo. Típico filhinho de papai.

    Somados os valores, o homem do caixa anunciou: R$ 4,30.
    Preguiçosamente, o cliente puxou a carteira do bolso da bermuda e, dela, um cartão de plástico. Baixinho, preguiçosamente, determinou: “Crédito”.

    O empresário suou frio. Acinte. “Comprar R$ 4,30 e pagar com cartão de crédito?”, pensou. Duas outras pessoas se postavam na fila para pagar suas despesas, quando o rapazinho do cartão pediu: “Parcele em três vezes, por favor”.

    Indignado, quase espumando de raiva, Pimentel obedeceu. Digitou números, emitiu sua via, deu comprovante para o cliente e ironicamente “agradeceu a preferência”.

    Enquanto atendia o próximo da fila que se formava, Pimentel lembrou-se do sonho que tivera antes de sair de casa. Ao somar valores de nova comanda, questionou-se: “Será que o sorriso que aquela mocinha de olhos e biquíni azuis me enviou eram pura educação ou ela ‘tava dando mole’?”

    - Próximo!

     

    Bulindo na rodela
    Quanto vale uma vida humana?
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