Acho que um tal de Alzheimer tá me devendo

    Boa parte dos que ultrapassam a barreira dos 60, como eu, têm medo de ouvir falar no alemão: Alzheimer. No mundo, mais de 35 milhões de pessoas sofrem com a doença; só no Brasil, há mais de um milhão e duzentas mil vítimas desse mal. Seu Zé faz parte dessa estatística. 

    Português, trabalhador, seu Zé chegou ao Brasil quando tinha 19 anos.

     

    Carpinteiro, começou trabalhando nas obras que se erguiam junto ao sonho de construir Brasília. Em 1959. Juntando dinheiro, montou marcenaria, que evoluiu para loja de móveis, que evoluiu para rede de revenda de eletrodomésticos, e, paralelamente, uma imobiliária. Ficou rico. Milionário.

     

    Homem bom, quando procurado, seu Zé ajudava amigos e parentes. Dinheiro ele não dava: emprestava. Fazia pequenos empréstimos com juros bem abaixo daqueles praticados por bancos. Ao emprestar algum trocado, exigia de volta conforme o combinado. Sem dispensa de juros. “Se não for assim, os vagabundos se acomodam”, dizia seu Zé, com forte sotaque lusitano.

     

    O português começou a variar. Passou a confundir situações, esquecer fim de histórias que começara a contar, fazia confusão até com os nomes dos oito filhos. Levado a médico, a família ouviu o que tinha medo de ouvir: mal de Alzheimer.

     

    Toda família tem uma ovelha negra. Joaquim era o problema na casa de seu Zé. Vagabundo, farrista, bon vivant, nunca soube o que é trabalho. Aproveitava-se do fato de ser o filho preferido e, contrariando princípios do portuga, conseguia e renovava empréstimos feitos pelo velho com a promessa de um dia pagar. Com juros, claro. 

     

    Seu Zé abria a carteira para Joaquim e anotava a nova operação com esperança de que um dia, quem sabe, o filho tomasse tenência, desse rumo à vida e pagasse o que lhe era devido.

    Manoel, filho mais velho do português, advogado bem sucedido no Rio de Janeiro, ligou para saber notícias do pai. Telefonema atendido por Joaquinzinho:

    - Tudo bem por aí?

    - Tudo beleza, mano.

    - E papai, como está?

    - Muito bem. Saudável, come com vontade. Fisicamente, muito bem mesmo. Psicologicamente, na fase ideal pra se pedir dinheiro emprestado: ele empresta e se esquece quanto e pra quem emprestou... 

     

     

    Acho que um tal de Alzheimer tá me devendo

    Boa parte dos que ultrapassam a barreira dos 60, como eu, têm medo de ouvir falar no alemão: Alzheimer. No mundo, mais de 35 milhões de pessoas sofrem com a doença; só no Brasil, há mais de um milhão e duzentas mil vítimas desse mal. Seu Zé faz parte dessa estatística.

    Português, trabalhador, seu Zé chegou ao Brasil quando tinha 19 anos. Carpinteiro, começou trabalhando nas obras que se erguiam junto ao sonho de construir Brasília. Em 1959. Juntando dinheiro, montou marcenaria, que evoluiu para loja de móveis, que evoluiu para rede de revenda de eletrodomésticos, e, paralelamente, uma imobiliária. Ficou rico. Milionário.

    Homem bom, quando procurado, seu Zé ajudava amigos e parentes. Dinheiro ele não dava: emprestava. Fazia pequenos empréstimos com juros bem abaixo daqueles praticados por bancos. Ao emprestar algum trocado, exigia de volta conforme o combinado. Sem dispensa de juros. “Se não for assim, os vagabundos se acomodam”, dizia seu Zé, com forte sotaque lusitano.

    O português começou a variar. Passou a confundir situações, esquecer fim de histórias que começara a contar, fazia confusão até com os nomes dos oito filhos. Levado a médico, a família ouviu o que tinha medo de ouvir: mal de Alzheimer.

    Toda família tem uma ovelha negra. Joaquim era o problema na casa de seu Zé. Vagabundo, farrista, bon vivant, nunca soube o que é trabalho. Aproveitava-se do fato de ser o filho preferido e, contrariando princípios do portuga, conseguia e renovava empréstimos feitos pelo velho com a promessa de um dia pagar. Com juros, claro.

    Seu Zé abria a carteira para Joaquim e anotava a nova operação com esperança de que um dia, quem sabe, o filho tomasse tenência, desse rumo à vida e pagasse o que lhe era devido.

    Manoel, filho mais velho do português, advogado bem sucedido no Rio de Janeiro, ligou para saber notícias do pai. Telefonema atendido por Joaquinzinho:

    - Tudo bem por aí?

    - Tudo beleza, mano.

    - E papai, como está?

    - Muito bem. Saudável, come com vontade. Fisicamente, muito bem mesmo. Psicologicamente, na fase ideal pra se pedir dinheiro emprestado: ele empresta e se esquece quanto e pra quem emprestou...

     

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