O papo aconteceu há mais de um ano. Recebo telefonema de pessoa com voz conhecida:
- E aí, cara. Você vai ou não vai capinar o meu quintal?
Acostumado com as brincadeiras do amigo, dou corda:
- Parece boa ideia. Se você pagar bem, posso até topar, embora a coluna prejudique a velocidade do serviço.
O contratante insiste, ansioso. Deve ser tremendo matagal. Posso cobrar acima da tabela:
- Sem brincadeira, cara. Você ficou de vir e me deixou na mão. Você vem ou não vem?
Continuo interessado:
- Se pagar bem, aceito. Tem o problema da coluna, mas talvez dê para fazer.
Foi quando lhe caiu a ficha. Percebido o engano, ele tentou consertar:
- Cara, desculpe. Liguei para o número errado. Eu quero falar com o jardineiro, o Francisco. Sem querer, teclei em Fernando.
Recuso o pedido de desculpas
- Entendi, mas agora eu estou interessado. Vai depender de quanto você paga. Ando sedentário. A capina me fará bem.
Caímos na gargalhada, conversamos rapidamente (milagre, quando se trata de papo da dupla) e desligamos. Contei a história no Facebook.
Logo choveram opiniões diversas. Rui Figueiredo advertia-me sobre a fama de “canguinha” do contratante. Eu devia recusar o serviço. A professora Vângela Morais foi econômica: “Esses dois...”
O tempo passou. Hoje, 8 de agosto, recebo telefonema da mesma pessoa:
- Desculpe, cara. Não atendi a sua ligação porque estava capinando o quintal.
Logo lembrei-me do papo da capina. Comentei com ele, rimos, tratamos outros assuntos e, no final, ele me confidenciou:
- Capino só de sunga. Assim, mantenho a forma e ninguém sabe como consigo o bronzeado.
Enfim conhecemos o segredo do Barão, o feliz proprietário do quintal onde, quando o Francisco some e jornalistas rejeitam o serviço, ele queima calorias e pega aquela cor caprichada. Acompanhado? Aí você já quer saber demais.