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Diferentemente de hoje, nos anos 1960, o máximo de erotização para a meninada eram os livretos mimeografados que Carlos Zéfiro produzia às esondidas no Rio de Janeiro. Chamados ironicamente de "catecismos", aquelas obras de arte literária erótica, misteriosamente, sem rede de distribuição, circulavam pelo Brasil inteiro. Do monte Caburaí ao arroio Chuí.

Anchieta, meu irmão mais velho, apareceu com uma daquelas fontes de cultura e, com mil recomendações, resolveu me emprestar a novidade. Todo cuidado era pouco. Eu escondia o catecismo, cujo título era "Férias com minha madrinha",  no fundo mais profundo da minha gaveta de nosso guarda-roupa comunitário. Cada um de nós, três irmãos, tinha uma porta e uma gaveta naquele móvel quase negro, horrível.

No vasto terreno de nossa casa, lá no fundo, uma enorme ingazeira nos oferecia sombra durante todo o dia. Nessa árvore, escolhi uma forquilha onde eu me deitava confortávelmente e devorava as páginas desenhadas e textos escritos por Zéfiro.

- Você não ouviu eu chamar? Tem que varrer o quintal... O que você está fazendo aí? - A voz de mamãe me assustou.

O catecismo caiu no chão. Quando mamãe se abaixou para ver que livro era aquele, eu caí também. Quebrei o braço, levei uma surra bem dada e prometi que nunca mais ia ler uma imoralidade daquelas. Não cumpri a promessa, claro