A média de vida do brasileiro vem aumentando sensívelmente, mas poucos conseguem cruzar a linha dos 100 anos.
Alcinda Cabral Brasil é uma mulher abençoada e, no sábado, 28 de junho, recebeu centenas de pessoas no CTG (Centro de Tradições Gaúchas) para comemorar o seu centésimo aniversário. Apesar do grande número de convidados, podemos dizer que foi uma festa "quase" só da parentada, pois Cabral e Brasil estão entre as cinco famílias mais numerosas do Estado.
A recepção oferecida a Dona Alcinda foi bonita e bem organizada. Ornamentação de bom gosto, o churrasco, cuidado por equipe do clube, foi bem servido e, novidade, sobremesa em self service, com grande variedade de doces feitos a partir de receitas regionais.
Alcinda é filha do pioneiro, propietário da primeira farmácia de Boa VIsta, Antônio Cabral. Este, enviuvado, casou-se com a professora Ana Libória que encarregou-se de terminar de criar e educar a aniversariante e seus vinte irmãos.
Viúva do pecuarista Olavo Brasil, Alcinda teve cinco filhos e assistiu - até agora - à chegada de 13 netos e 13 bisnetos.
Simpática, afável, elegante, conversadeira, a memória de Dona Alcinda é famosa. Seus conhecimentos sobre a história de Roraima atraem estudantes e pesquisadores.
Entre familiares, ela é carinhosamente conhecida por "Arquivo vivo".
Seu gosto por leitura e pela modernidade levou-a manter conta em rede social da internet. Afastou-se por que a visão já não é tão boa e dificulta a lida com telinhas.
Pelo seu aniversário, Dona Alcinda recebeu muitas ligações oriundas de outras unidades da Federação. De Brasília, Neuza Pinheiro, agora com 101 anos de idade, cumprimentou-a e desafiou: "A aposta entre nós está só começando".
No próximo dia 26, meu tio Wilson de Abreu Quintella completaria 100 anos. Considerado o divertido da família, era alegria certa em qualquer ambiente, com brincadeiras e histórias impagáveis.
Na infância, no Rio de Janeiro, mamãe, três anos mais velha, ia com o irmão à escola onde estudavam, em São Cristóvão. Apesar da vigilância, durante o período de aula ele escapava em direção à Quinta da Boa Vista. Quando menos se esperava, lá vinha o fujão com o uniforme todo roxo, manchado de jamelão (em Roraima, azeitona), sua fruta preferida.
Na adolescência, levava a minha avó Neném à loucura. Algo como chegar em casa com uma fieira de rãs ainda vivas e dizer calmamente: “Mãe, eu limpo e você frita”. Também podia aparecer com uma tábua cheia de pregos enfiada na planta do pé, sentar na soleira da porta da cozinha e, tranquilo, falar, enquanto arrancava a tábua. “Não foi nada, mãe”. O susto era garantido.
Já adulto, auditor da Shell, trazia histórias deliciosas das viagens. Duas ficaram famosas. No restaurante, o tio pediu filé com fritas. O corte foi macio, mas, ao mastigar, a carne estava dura. Calmo, brincou com o garçom: “Por favor, traga outro. Este filé foi tirado do lado em que o boi se esfregava na cerca”.
Em Salvador, parou na praça para comer algo típico. Logo chegou uma mulher linda, num carro conversível. Ela encostou na banca da baiana e pediu: “Um acarajé, por favor”. A vendedora perguntou: “Quente?” A morenaça confirmou: “Quente”. Cheio de moral, tio Wilson fez o mesmo pedido. Na primeira mordida, segundo ele, viu “a Bahia de cabeça para baixo”. Quente era sinônimo de apimentado. Sem ter como cuspir o bolinho, ele comeu no desespero. Já no hotel, muitos litros de água depois, constatou o estrago no palato queimado. Passou o resto da viagem em dieta líquida. Sem pimenta.
Saudades, tio Wilson!