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Quarta, 02 Setembro 2020 07:54

O mestre da luminosidade agora ilumina o céu

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Morreu Augusto Cardoso.

Desculpe o início da crônica sem qualquer criatividade, mas a notícia trouxe tanta tristeza e perplexidade aos roraimen­ses que o lugar comum torna-se razoável.

Artista plástico de grande sensibilidade, Cardoso desafiava a perspicá­cia dos interlocutores ao mostrar suas obras. Cada traço incorporava mensa­gem explícita ou implícita, a depender do objetivo do autor.

Cardoso embutia mensagens nas telas. Certa vez, conversamos sobre a percepção do público a determinada obra. Com aquele jeitão simples, de fala baixa e mansa, ele comentou: “Um casal olhava a tela e discutia sobre a minha intenção nas imagens. Cada um tinha um ponto de vista. Ambos esta­vam errados”.

Aliás, Cardoso divertia-se com as interpretações sobre suas ideias ao pintar. Mesmo os traços mais óbvios podiam conter mensagens mais profun­das, que só ele podia explicar. Ao fazê-lo, ficava fácil entender. Mas até o ob­servador entendê-las, o caminho era longo. Suas telas contêm iluminação bas­tante acentuada. Parecem estar em terceira dimensão. São impregnadas de realismo, encantam.

A maior demonstração de reconhecimento ao trabalho do genial Cardo­so presenciei na visita de rotarianos indianos ao Estado de Roraima. Executivos e profissionais liberais em seu país, os visitantes quiseram conhecer a arte roraimense. Levei-os ao ateliê do Cardoso.

Recebidos com a generosidade de sempre do artista e sua esposa, Edi, ele mostrou a coleção de quadros em acervo. Explicava cada tela com a paci­ência de sempre. Os indianos, ávidos por informações, perguntavam bastante. Ao final, um deles, emocionado, beijou a mão do Cardoso e falou: “Deus está em suas mãos”.    

 

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Fernando Quintella

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