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Quarta, 02 Março 2016 00:13

Crise e perspectivas políticas na Venezuela

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A Venezuela vive a pior crise de todos os tempos, com escassez de alimentos, remédios, gêneros de todas as necessidades, salários baixos, violência nas ruas e a falta de uma boa perspectiva no horizonte.

O presidente Nicolás Maduro não herdou a liderança de Hugo Chávez e, com isso, dividiu mais ainda o país, cuja economia depende basicamente do petróleo, em baixa no mercado internacional devido à pressão árabe para desestimular a pesquisa de fontes alternativas de energia, como o xisto.
Sem apoio das ruas e com o Congresso desde dezembro controlado pela oposição, Maduro amarga o desconforto de não poder contar mais nem mesmo com o Exército ou a Guarda Nacional, cada vez mais divididos e agora dispostos a um golpe de Estado.
A Venezuela está sem reservas em dólar. O empresário que importa recorre ao câmbio paralelo, cotado a mais de 1.000 bolívares por 1, o que torna os preços dos importados um absurdo.

FALTA TUDO
O salário mínimo do país é de pouco mais de 9.600 bolívares. No paralelo, a moeda está sendo trocada, em Santa Elena, a 250 por 1 real. Ou seja, o mínimo vale menos de 40 reais, e um pneu aro 13, de automóvel, em falta, contrabandeado do Brasil, não custa menos de 250 reais.
Os supermercados não têm papel higiênico, o arroz é escasso e não tem frango, a base da alimentação do país, que é disputado a tapas, em longas filas, quando aparece, a 3 mil bolívares, em média, a unidade, com menos de dois quilos.
Sem o que comer, com pouco dinheiro no bolso e com uma inflação que dobra a cada mês, nem os chavistas garantem apoio ao bolivarianismo de Nicolás Maduro.

TURISMO TAMBÉM MORRE
Margarita, a ilha do Caribe que é o estado venezuelano de Nova Esparta, deixou de ser o paraíso que era até pouco mais de um ano para os turistas do Norte do Brasil. É onde ficam as praias frequentadas por amazonenses e roraimenses, acostumados a uma gasolina pura, que custava, até a semana passada, 95 centavos de bolívar o litro.
Acostumados a trazer seus carros abarrotados de compras, de dezembro a este mês de fevereiro os turistas brasileiros não têm comprado quase nada. Os preços da ilha estão parecidos ou mais altos que os do Brasil, e já não há produtos em prateleiras.
No shopping Sambil, o maior de Margarita, tem lojas que fecharam as portas. No comércio antes em ebulição das vias centrais - avenidas 4 de maio e Santiago Mariño - quem não fechou as portas tem pouco o que vender e a preços muito elevados.
O supermercado Rattan, maior rede da ilha, onde o movimento de clientes era intenso, não tem mais que pequenas quantidades de menos de cinquenta itens. A maior parte das luzes está apagada.
A rede hoteleira de Margarita está decadente. Pelo menos cinco grandes hotéis em construção - um deles na fase de acabamento -, tiveram as obras abandonadas. Os que sobrevivem, carecem de investimento.
O Hilton Margarita, estatizado por Hugo Chávez por querer cobrar para sediar a cúpula de presidentes da América Latina, há pouco mais de uma década, é o principal símbolo da decadência. O que quebra não é reposto ou é feito um "gatilho".
Não existe um só apartamento onde tudo funcione, os boxes dos banheiros foram substituídos por cortinas de plástico, água quente é artigo de luxo, ar condicionado raramente funciona. A diária pode dobrar de uma semana para a outra, como aconteceu entre o final de janeiro e o início de fevereiro.
Nesse cenário, até motoristas de táxi já perderam a esperança. Para a categoria, ou se muda o governante ou se acaba o país.

DAQUI NÃO SAIO
No que depender do governante, pelo menos ele não muda. E, na recepção do antigo Hilton, os quadros da rede de hotéis foram substituídos por fotografias de Maduro e de Chávez, ao lado de Simon Bolívar e de outros heróis da independência.  
No segundo semestre do ano, a Venezuela terá um plebiscito, previsto na Constituição para a metade do cumprimento do mandato, para decidir se Maduro fica ou cai de podre. O problema é que a Corte encarregada de confirmar o resultado foi toda substituída por aliados, um dia antes da posse do Congresso oposicionista, em dezembro.
Com tudo isso, pasmem, o venezuelano só conta com a possibilidade de golpe.

(Por Rui Figueiredo - Fotos: (01) Rui Figueiredo; (02) Divulgação

Lido 2417 vezes Última modificação em Segunda, 28 Março 2016 09:31
Redação

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