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Quarta, 09 Mai 2018 04:17

Massacre sonoro

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Os pais do Ivo queriam porque queriam que ele tocasse algum instrumento musical. Talvez entusiasmado com a música O Silêncio, em que o solo de piston encantava o público naqueles anos 1960, levou nosso amigo a aventurar-se nos metais. Recebia aulas de professor qualificado, mas estava longe de conseguir algo sequer parecido com o solista da orquestra da TV Tupi, no Rio de Janeiro.

Reconheça-se o esforço do Ivo. Treinava, treinava e treinava mais ainda, todo dia, para desespero da vizinhança. Bastava errar a nota mais aguda e lá ia ele olhar pela janela do apartamento, de frente para a rua, se alguém notara a mancada. Sempre havia piadista à espreita do desafinado. Ele chegava à janela e lá vinha a piada: “Continua. Um dia você acerta”. A briga desigual terminou como todos esperavam. Ivo desistiu. A vizinhança comemorou e a vida seguiu adiante.

Se piston incomoda, imagine bateria. Os músicos experientes garantem: o aluno começa barulhista; depois, se tiver talento, vira baterista. Também, pudera. Com tantos pratos e tambores ali na frente dele, é fácil deixar-se envolver com baquetas nervosas e intensas. A pancadaria dos iniciantes faz qualquer luta de MMA parecer brincadeira de criança. Os vizinhos jamais os esquecerão.

Agora, faça ideia de banda iniciante, com músicos idem. Baile à vista – sim, tem quem contrate -, eles tratam de ensaiar a partir das sete da manhã, em pleno sábado! Passam o repertório trocentas vezes. Se alguém erra, fato comum, começam tudo de novo. O consolo dos vizinhos é imaginar o suplício dos convidados da tal festa.

Com ou sem talento, todos têm direito de arriscar os seus acordes, virtuosos ou não. Se o sucesso passou longe, pelo menos esses heróis anônimos deram assunto ao repórter sem inspiração para a coluna da semana.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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