Poucos minutos depois de ter encerrado conversa pelo WhatsApp com meu filho, o telefone tocou. O nome da pessoa não apareceu no display. O número começava com 085. Pensei não atender, pois não tenho ninguém no Nordeste. "Tudo bem, vamos ver o que querem me vender", pensei.

- Oi...

Voz forte, com eco, ameaçou:

- Estou com seu filho. Se quiser ter seu menino de volta inteirinho, faça o que lhe digo.

- ????

- Antes de mais nada: não desligue o celular nem fale com ninguém até a gente terminar a transação...

Lá no fundo, uma voz gritava: "Pai, faça o que eles mandarem. Eles estão me torturando". Se eu não tivesse acabado de falar com Daniel, poderia pensar que, de fato, ele estava em poder de sequestradores. Mantive a calma e entrei no jogo.

- Olha, você não sabe o trabalho que esse menino me dá. Se quiser, pode ficar com ele...

- O senhor pensa que isso é brincadeira? Eu não tenho nada a perder. Se o senhor não seguir minhas instruções, pode chamar a família pro enterro do seu garoto.

Balancei. É verdade ou trata-se de golpe do sequestro? Meu filho vive em Brasília e, com 36 anos, já não é nenhum garoto. Convenci-me de que era aplicação e resolvi sacanear com o vigarista.

- Olhe moço, como já lhe disse, pode ficar com o menino. Na verdade, acho que estou fazendo um bom negócio... Sua mãe está aqui em casa e tem me dado muito prazer. Pense numa velhinha danada...

- O quê?!!!

- Estou dizendo que sua mãe está aqui comigo. E, com meu filho, eu nunca faria o que eu faço com ela. Rapaz, tu sabias que tua velha gosta de trepar?

O cara me xingou de viado, me mandou tomar naquele lugar que eu nunca irei e desligou ou telefone.

Enquanto me servia de uma dose de uísque, fiquei dando feições à velha que eu acabara de inventar.