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Sem pressa - Colunistas

    Sem pressa

     No edifício em que minha mãe mora, em Brasília, vivem muitos idosos. Sob os pilotis, é comum encontrar cabecinhas brancas de 60, 70, 80, 90 anos. Minha mãe acaba de completar 95; acho que ela é a decana do bloco. 

    De repente, a notícia: "Dona Maria do 104 morreu". Minha mãe chamou Célia, uma de minhas irmãs, e pediu-lhe companhia para prestar uma última homenagem à vizinha. 

    Com velório marcado para a partir das 15h do dia seguinte, mamãe teria tempo de ir ao cabeleireiro para arrumar as madeixas: "Sou velha, mas não quero que me achem feia", diz sempre a nonagenária.

    Em Brasília, velórios são conduzidos nas muitas capelas destinadas a essa finalidade dentro do cemitério e é normal que pessoas chorem uns três ou quatro mortos errados até chegarem ao defunto querido.

    Antes de chegar à capela em que o corpo de dona Maria se encontrava, Célia e mamãe passaram por seis velórios diferentes. Com tanta confusão, minha mãe, ficando cansada, já começara a reclamar ante a possibilidade de sair do cemitério sem que a finada "tivesse visto" a presença dela naquela derradeira reunião.

    No endereço correto, o som de um violino trouxe paz ao coração de Neusinha e tranquilidade à alma de Auricélia, que já estava preocupada com as preocupações de sua velhinha.

    Tocada pelas finas notas musicais e vendo um violinista tão alinhado, tão circusnpecto, mamãe segredou ao ouvido de Célia.

    - Tá vendo que coisa linda, minha filha? Pegue o contato desse rapaz e guarde o endereço com você. Quero que ele toque no meu velório...

    A música foi interrompida por algumas orações, alguns cânticos, e o corpo de dona Maria foi levado até seu novo endereço. O padre teceu alguns elogios à defunta que, finalmente, como cantava Teixeirinha, foi "tapada com terra fria".

    Dali, Célia acomodou mamãe no carro e, quando chegaram ao portão do Campo da Saudade, minha irnã, contrariada, freou e comunicou:

    - Ih, mamãe... Temos que voltar. - Por que, minha filha?

    - Esqueci-me de pegar o cartão com o endereço do violinista...

    - Volte não, minha filha. Você pode fazer isso depois. Tenha certeza de que eu não tenho nem um pingo de pressa.
    Miscigenação passarinheira
    Não coloque a mãe no meio!
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