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Literatura psicodélica

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    Quinta, 12 Novembro 2020 10:30

    O absurdo

    Não há nada o que falar. Sinto no corpo todo você. Em todos os lugares, você. Tudo é quente, faz calor em todas as horas do dia, todos os dias do ano.

    É mais uma tarde quente de outubro. Tudo começa com o primeiro passo, a lógica fala que tudo tem um fim, só que esse fim é todo dia ou dia nenhum. Nunca chega. Os primeiros passos para algum lugar são sempre complicados e em ritmo indeciso. Ponto indefinido que só existe para aqueles que sabem que esse local arquetípico que nos ensinaram a crer não existe.

    Caminho lentamente por essa infinita aleia que se horizonta para o nada. Somente caminho, caminho, caminho... Percorro a cada instante a sua extensão. Cada metro tem uma imensa itinerância de um ano-luz desse perturbador e longo solilóquio.

    Sou arrastado por essa longa calçada (com uma abrupta força), arremesso mais um passo para trilhar essa vereda já tão percorrida, já gasta por tantos pés que sangraram
    (e sangram) e nunca chegam ao destino. Ou será que é o destino que não chega a nós?

    A alameda é a mesma de sempre, não muda nunca, como nunca muda a vida por aqui. Só vejo fragmentos delas, de vidas que não são as minhas, não são de ninguém, dessas muitas vidas que se perderam no tempo. Até porque o fim não existe, o que existe é o fim pessoal, a inexistência de toda a coerência como pessoa. Isso é o propósito da morte, o fim do eu, de você e de nós. Não esse fim que todos esperam - todos sabem que vão morrer, mas não querem morrer só. Sabemos que a morte é algo íntimo, mas queremos estar acompanhados pelo menos nesse último ato.

    Meus passos a seguir me levam ao mesmo lugar de sempre. Já em movimento, acendo um cigarro. A fumaça se esvai pelas narinas, tudo se vai. O passo que dei há um segundo se foi. Cada trago é um dia a menos na vida, mas tanto faz, já subtraí tantos dias de minha vida por menos disso...

    É puro e simples o andar, só seguir em frente, a sina é essa todos os dias, todas as tardes, todas as noites. Venho aqui peregrinar: um passo à frente do outro nessa vida cíclica e nada mais. Além disso, simplesmente andar.

    Caminho com os olhos fixos em minhas próprias pisadas, sem perceber que o vento, o calor e a poeira borram todas elas. E cada nova pisadela é única, singular no tempo e no espaço. Sou a efêmera testemunha de mim mesmo, dessa trilha sem fim dentro do meu ser.

    Embora minha idade me condene (já enfadado de tantos anos que nem sei mais quantos), não sei mais o que fazer com tudo isso. Procuro de alguma forma não pensar mais nisso: no tempo que passou, nas coisas que tanto me perturbam e singraram em mim... Essa, lá no fundo, permanecem caladas, mas num surto de rebeldia emergem e atribulam todo o meu corpo.

    Mais um passo. Só mais um passo... O percurso já é tão conhecido que meus pés se movimentam sozinhos, já nem tropeçam nas pedras tão calejadas e gastas pelos tombos da vida.

    Então eu me detenho e volto à tona desse sonho remissivo que de tanto sonhá-lo nem sei onde começa esse estado idílico e onde acaba o que é real.

    Publicado em Autores convidados
    Terça, 26 Novembro 2019 03:02

    Mais uma bruta história da periferia esquecida

    Conversa de botequim

    Publicado em Autores convidados
    Terça, 04 Setembro 2018 06:12

    O lotação nosso de cada dia

    De segunda a sexta-feira, estou lá. Lá entre a avenida Mario Homem de Melo e a rua Cerejo Cruz. Eu os aguardo; logo eles passam. O que me surpreende são suas gentilezas – a educação polida na labuta diária. “Bom dia (já estou a bordo)!” O rádio quase sempre ligado no “Acorda Roraima” ou tocando músicas evangélicas. O programa sempre noticiando as mesmas coisas de sempre: é o café requentado de ontem.

    Passageiros embarcam e desembarcam. É gente de todas as etnias, línguas, cores... Às vezes, penso que nem eles sabem para onde estão indo. Bom dia! São homens, mulheres, indígenas, imigrantes, casais, crianças. Tanto faz quem são todos eles, o lotação é democrático. São poucos minutos dentro dele, mas percebo que o mosaico multicultural de Boa Vista é imenso. Bom dia! Às vezes o bom-dia se parece mais com um pedido de socorro: é como se cada passageiro, nesse curto percurso, fugisse do desespero do dia a dia. “Bom dia!”

    São muitas caras, muitos olhares, muito pouca esperança. Somos todos um só. Fomos transformados em muitas cópias de nós mesmos que se multiplicaram em muitos desses desconhecidos. “Bom dia! O Senhor vai descer onde?” “Passa na N-5?” “Vai pela Ataíde Teive?” “Passa no Cambará?” “Bom dia!”

    Ouço o rádio. Ouço a conversa da mulher que desceu antes de mim. Ela estava falando que sua colega de trabalho é uma traidora! A música gospel fala de alguém que foi salvo ao se converter. O senhor que estava sentado no banco de trás dizia que não sabia em quem votaria, mas não votaria mais na atual governadora de jeito nenhum.

    O imigrante venezuelano pergunta (em portunhol) se vai passar perto de algum lugar do qual eu nunca ouvi falar. O motorista diz que sim. Meu ponto de descida está perto. “Bom dia!” Seguimos nossa sina de motorista e passageiro, é o que somos todos: passageiros da vida.

    O táxi lotação é um dos melhores serviços de utilidade pública em Boa Vista. Eles sempre aparecem quando precisamos, seja para chegar ao trabalho, para fazer compras, para não atrasar a um compromisso, para ir ao encontro da pessoa amada, ou para simplesmente ir de um lugar a outro sem nada para ver ou fazer - nem lá, nem cá.

    Esses operários do volante e suas incríveis máquinas transportadoras são a prova da resiliência de nosso povo: somos fortes e guerreiros.

    “Bom dia (estou chegando a meu destino)”.

    Publicado em Autores convidados
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